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SENHOR FLEX



SENHOR FLEX
PARTE 1

                                 
 Autor. Marcos marrom

     Gostaria que a senhora psicóloga me chamasse de senhor Flex, obrigado - É porque eu corro muito e muitíssimo rápido, talvez você já viu a minissérie no Netflix.
 Vejamos... Hoje também passa na HBO. Talvez tenha  assistido. Que pena, agora só passa em  canal fechado, quando mais jovem passava em canal aberto, era maior felicidade para rapaziada.
      Eu estava na fase de querer um brinquedo, pedia dinheiro para minha mãe e ela não me dava.
    Até as coisas certas que eu fazia, ela gritava, não entendia. Até quando o meu vizinho Alemão me chamou para nos dois dar uma volta, na praça. - Escute Flex! Vamos pegar o relógio daquele cara, depois corremos. Quando ele me falou, pensei. Agora já não posso recuar. - Psicóloga tinha que fazer, por quê? Os meninos da minha idade já tinham histórias para contar, e eu? Tinha que ter um proceder. Sabe como é? Um PRO-CE-DER, ter respeito na quebrada, a senhora entende.
Então. - Vamos Alemão! Chegamos com uma expressão nervosa, gritando, o grito não provocava medo, minha idade? Onze anos, Alemão uns quinze anos, se não me engano. Pegamos o relógio, era de ponteiro. A vítima tentou reagir. Batemos até sair sangue. - Sabe psicóloga a gente cresce e tem coisas que ficamos impressionados das atitudes que tomamos... Temos que agradecer a cada dia. Vendemos tudo, tudo na fera da marreta, ganhamos um trocado e dividimos, comprei chocolate, balinha, bolinha de gude.
Na escola não era muito bem, já tinha reprovado três anos na terceira serie, muitas vezes não acordava para a escola.  A minha mãe não tinha tempo de olhar o meu caderno, trabalhava na mansão do Alvez, lá no centro. Quatro conduções, para ir e para voltar, chegava à noite.
Poucas vezes me beijava cariciando, que a maioria das vezes eu não percebia o amor que minha mãe tinha comigo. Crescendo, a família da rua foi a minha melhor amiga. Sempre esperto mastigando o meu chiclete, eu estava crescendo na área, era bicicleta, cala a boca filho da puta! Uma expressão nervosa.
 É só o dinheiro! Cala boca!            
Eram roupas, bijuterias, chocolates, balinhas e muitos outros.  Os Botas pretas mesmo com os seus carros possantes, não conseguiam nos alcançar, as minha pernas magras corria mais do que Bolt. Acho que eu poderia ser um atleta, não sei porquê não virei atleta.
O conhecimento já estava por chegar, mulheres me admirava, eram muitas, e todas querendo casar comigo, os bandidão dos bairros vizinhos queria ser meu amigo. Cumprimentava quando passava na rua – “FLEX! Qualquer coisa tamo aí”! Os moleques me tirava de exemplo, me espelhava. Para eles eu era o herói, porque eu psicóloga, era o maior.
Um dia desses encontrei com Alemão na esquina, eu já tinha vinte anos ele combinou comigo, que no outro dia às vinte horas nos iríamos assaltar o posto Cartel, com convecção de uma boa bolada.
Cheguei a respirar forte, é foda a vida quando fala em dinheiro. Fui para casa tarde, depois de uma boa noitada no bar do Chicão. Gastei quase todo o dinheiro que tinha roubado,  um dia antes. 
Psicóloga olha o vacilo. Minha mãe pergunta se eu estava trabalhando, sem ainda estabelecer o equilíbrio emocional e o consciente do efeito da  pinga, respondo. - Não!
No outro dia, só vejo as fuxiqueiras olhando para mim com um olhar que sabia tudo sobre a minha pessoa, talvez elas saibam um pouco, por que eu nasci nesta rua.
Só ouvir cochichando que a noite tinha sido a maior gritaria. Psicóloga, quem vai saber? Conversas são conversas, talvez seja até outro vizinho de meu bairro, acontece coisa, aqui todos os dias, que até Deus dúvida, eu só lembro quando abrir a porta tonto, e caí na cama.
Eu considero um sujeito normal, jogo bola, brinco no decorrer do dia. Mas parei na hora do almoço para pensar, não tinha feito nada para oferecer a minha mãe ou para casa. - Mas depois que roubar o posto vou comprar um vertido para ela, poderia ser até aqueles vestidos de bordas que compra no Shopping. Pensei desse jeito, Psicóloga, por cima iria até embrulhar... Acredite! Embrulhei de um papel de cor ouro.
Posto? Foi adrenalina total, desespero, mas o dinheiro já estava na minha mão, e na minha casa quando entreguei o presente, minha mãe me desacata, com tom de voz forte, -”Vagabundo! Não trabalha e arrumou esse presente como? - Tentei explicar... Mãe  trabalhei com o...,o... Gaguejei sabe psi-có-lo-ga foi com José de pedreiro, olha a minhas mãos.
Sabe senhora! Mesmo falando, ela não acreditava. Pegou o presente, jogou no lixo, me mandou ir... Para o quarto. Outro dia, minha mãe já tinha ido para o serviço, continuar a sua rotina. Mas quem está dentro não sai, não é psicóloga? Continuei... Então passa! Cala a boca filho da puta! Passa logo! Na próxima semana já estava a comprar um carro.
É psicóloga...O dia vai, a noite chega, choro! Mas não choro por minha alma! Hoje estou com esta idade, vinte seis, não, desculpe! Vinte e oito anos, sentado nesta cadeira, penso no meu pai que não conheci, na minha mãe, no dinheiro, e na minha morte.
Necessidade? Sempre existirá nesse mundo, mas sempre vou querer mais no meu bolso. Chega de pergunta, agora sou eu que faço... 
A senhora é psicóloga ou psiquiatra?
- Senhor Flex, agradeço pela entrevista... Eu sou... 

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